Desde 1998, ações policiais no Rio de Janeiro provocaram 25.283 mortes, o equivalente a 15% de todas as mortes violentas no estado entre 1998 e setembro de 2025, segundo levantamento da Folha de S. Paulo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). O número não inclui as 117 mortes da operação de 28 de outubro, a mais letal da história fluminense, que deixou 121 vítimas ao todo.
Mesmo após quedas recentes, o Rio continua entre os estados com maior letalidade policial do país: é o terceiro em números absolutos e o sétimo em índices proporcionais. Entre 2015 e 2024, foram 11.550 mortes — mais do que as registradas pela polícia dos Estados Unidos no mesmo período, embora a população americana seja vinte vezes maior.
Segundo a economista Joana Monteiro (FGV), os números brasileiros “chocam especialistas estrangeiros” e revelam a naturalização da violência no país.
No mesmo intervalo, 615 policiais morreram em serviço ou fora dele — o maior número do Brasil. Em 2019, o estado atingiu o pico histórico, com 1.814 mortes causadas por agentes, índice de 10 por 100 mil habitantes. A escalada levou o STF a criar a ADPF das Favelas, que impôs restrições a operações e contribuiu para uma redução parcial nos anos seguintes.
Sob o governo de Cláudio Castro, ocorreram três das quatro operações mais letais desde 2007 — entre elas, o Jacarezinho (2021) e a Vila Cruzeiro (2022). O governo nega abusos e afirma que as ações visaram enfraquecer o Comando Vermelho.
Moradores e defensores de direitos humanos temem novas retaliações após a morte de quatro policiais na última operação. Para a defensora pública Cristiane Xavier, o modelo atual “está esgotado” e perpetua a violência. O delegado aposentado Vinicius George concorda:
“Em 30 anos, matamos 30 mil e perdemos 3 mil policiais. E nada melhorou. É uma espiral de violência. Precisamos mudar o rumo.”